terça-feira, 23 de agosto de 2011

A cultura da esperteza

   
No Campeonato Brasileiro os árbitros têm de enfrentar um inimigo cultural, a cera - sinônimo de antijogo no jargão futebolístico - que se faz presente em grande quantidade nos confrontos da Série A.

Numa pesquisa com enfoque nas três últimas rodadas (14, 15 e 16), foi constatado que das 69 vezes que um jogador recebeu atendimento, com auxílio do médico e/ou necessidade da entrada do carro-maca, sua equipe estava vencendo ou, no mínimo, empatando em 64 oportunidades (92%). Ao todo, nas três rodadas citadas, houve 28 paralisações de jogo por conta de lesões, sejam elas forjadas ou não, em situações em que não houve a necessidade da entrada da maca. Curiosamente, atletas de times que estavam em desvantagem no marcador não precisaram de atendimento médico simples. Afinal, eles corriam contra o tempo para buscar o resultado. Ex-árbitro e hoje comentarista da TV Globo, José Roberto Wright diz que o futebol brasileiro tem de passar por um processo de reeducação em relação ao assunto. Segundo ele, as táticas de antijogo ficaram ultrapassadas com a modernidade do espetáculo, cercado de câmeras vigilantes. Com isso, a arbitragem tem de ficar mais atenta para não ser surpreendida pelos espertinhos. - Brasil, é muito difícil lidar com a cera. O jogador é atingido na barriga e coloca a mão no rosto. O árbitro não é médico para diagnosticar e só pode aplicar o cartão se tiver a certeza de que está sendo enganado. Você nunca vê um jogador do time que está perdendo cair no chão. Lembro uma vez que o Edinho simulou uma lesão e saiu. Levantou logo que deixou o campo, e fiquei uns quatro minutos sem olhar para lá. E ele louco para entrar. Ficou uns quatro minutos de castigo - declarou Wright, divertindo-se ao falar da situação inusitada. Os árbitros do Brasileirão, no entanto, tem a sua parcela de conivência com a cera. Em 23 das 30 partidas analisadas, os acréscimos foram de três ou quatro minutos no segundo tempo, independentemente do número de atendimentos médicos e substituições. Apenas no jogo Cruzeiro 0 x 1 Flamengo, que teve Paulo César Oliveira na arbitragem, foram dados seis minutos a mais. Um caso raro aconteceu na final do primeiro turno do Gauchão deste ano, quando o árbitro Márcio Chagas da Silva acrescentou oito minutos. O Caxias, que vencia por 2 a 1 aos 45 da etapa final, buscou paralisar o jogo a todo momento. Um exemplo disso foi que seus três atletas substituídos caíram pedindo atendimento médico antes de deixarem o campo. Aos 50 minutos, o time da capital empatou, levou a decisão para os pênaltis e venceu. Chagas foi elogiado pelo ex-árbitro Leonardo Gaciba por sua decisão.


Fonte: Globoesporte.com 

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